Cenimar Soares perguntou:
Como fazemos em relação a este mercado, onde a ética é ausente, a imposição impera, e a estupidez predomina? Fazemos o trabalho engolindo o sapo, que não é pequeno, ou assumimos uma postura que é só nossa?
Prezada Cenimar, não tem jeito, não tem escapatória. A partir do momento em que você construiu um mundo ético para você e suas relações, sempre existirá esse confronto e esse eterno sofrer que é trombar com um mercado frequentemente não-ético. O grande aprendizado é sobreviver aos embates sem perder sua identidade, seus valores. Mas será possível chafurdar na lama e sair limpo? William Hughs em seu primoroso ensaio sobre a natureza humana (Existence and coexistence. 1923), nos diz que a falsa idéia de que é possível sair incólume de uma coexistência com grupos não éticos, produziram os maiores crimes da humanidade e dentre eles, podemos citar a ascensão do nazismo na Alemanha pós primeira guerra mundial. Essa noção de impossibilidade de compartilhamento com núcleos não-éticos é concomitante com as poéticas palavras de Nietzche: “se olhares para dentro do abismo, o abismo olhará para dentro de ti”. Em palavras menos nobres: “abraçou o gambá, saiu fedendo!”. Ou seja, particularmente, não acredito na falta de ética sustentável, na falta de ética que não prejudique o meio ambiente. Não que eu não a pratique, sometimes é impossível ser totalmente ético. A grande diferença é sempre saber que estamos errados quando estamos errados. Essa noção limita nossas ações não éticas circunscrevendo-as por limites éticos sólidos que acabam por impedir sua disseminação e contaminação do restante de nossas outras atitudes.
Resumindo, na prática, não existe possibilidade de viver na lama e sair limpo. Porém, o uso de equipamentos adequados pode fazer com que evitemos os lamaçais, mesmo que tenhamos que dar mais voltas e caminhar muito mais, para chegar até nosso almejado destino.
Um comentário:
Qual o problema de perder a identidade?
A identidade é identica ao que?Afinal a ética não é a tentativa de manter as coisas sem mudanças,em seu ethos...eternamente imutável, a quem interessa isso?Aos transformadors ou aos conservadores?
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