30 setembro 2006

Como fazer um ser humano?

Marcelo Ferrari perguntou:
Como fazer um ser humano usando apenas os ingredientes e utensílios domésticos de uma cozinha?

Prezado amigo Ferrari, inicialmente teríamos que ter muita água, quase setenta por cento do meu ser humano seria feito de água, de torneira mesmo, sem filtragem, porque a vida é suja e torta e perdemos tudo que tínhamos de pureza naquela m*rda de paraíso. Faria uma massa básica de farinha e água que é o mais perto que poderia chegar do Adão (feito de barro por Deus) e do mito hebraico do Golam (feito de barro pelos homens). Amassaria essa mistura com as mãos, porque acredito em algumas regras básicas dos rituais de transformação. Barro, homem, massa, pão, corpo sagrado, comunhão. Assaria meu humano moldado e crescido, após fermentação, num leito de leite e mel e em forno elétrico para que os elétrons saltitantes, transformados em calor, solidificassem todas as promessas incrustadas nesse meu proto-sapiens, nesse meu frankstein prestes a receber a energia vital. Depois, deixaria o resto com a vida, com o tornar-se humano que é o viver junto e em comunidade/comunhão, repartindo o pão com os outros humanos.

Por que os maridos nunca percebem?

Rosana Fachin perguntou:
Por que os maridos nunca percebem o que nós - esposas - esperamos que eles façam?

Prezada Rosana, eu poderia começar essa resposta dizendo que os homens são de Marte e as mulheres são de Vênus, mas não vou dizer porque isso é mentira. Homens e mulheres são do planeta Terra, só que vivem em sintonias diferentes. Coexistem, só que de maneiras diferentes. No caso de maridos e esposas, tudo se torna um pouco mais denso e complexo porque é a diferença de sintonia natural dos gêneros obrigada a conviver e repartir o espaço-tempo. O abismo que existe entre nós é infinito e semelhante ao que existe entre o 0 e o 1 no conjunto dos números fracionais. Quanto mais tentamos nos aproximar, mais nos afastamos, assim como, por mais que dividamos a distância entre o 0 e o 1 em pequenas frações, nunca chegaremos ao zero, nunca atingiremos o outro lado, a outra margem do rio. Aqui estamos nós, aí estão vocês. A possibilidade de compreensão entre os gêneros, às vezes se torna quase um fato, quase achamos que podemos tocar a alma alheia, compreender e ser compreendido por ela. Essa sensação mágica de proximidade, de ter estado tão perto, renova nossas esperanças no impossível e continuamos a acreditar no quase encontro. Tornamos-nos, então, cheios de certezas e de quereres em relação ao outro que, por sua vez, continua a navegar em outros mares.

25 setembro 2006

Dúvidas sobre a corrupção

Lau perguntou:
Se não houvesse corrupção, o Brasil seria melhor?
Existe algum lugar no mundo, onde tenham humanos e não tenha corrupção?
Existe grande ou pequeno corrupto?

Prezado amigo puro, não posso afirmar com certeza se o Brasil seria melhor, pois isso é um exercício de imaginação tão teórico quanto imaginar para onde foi a luz tragada pelo horizonte de evento de um buraco negro. Podemos até assuntar, calcular, mas a vida real é muito mais complexa e surpreendente. Talvez as coisas fossem menos ruins para a grande parcela da população que vive mal, come mal, dorme mal e etc. Mas para mim, para você, para nossa classe medinha, será mesmo que faria alguma diferença? Acho que nossa vida não é melhor por nossa conta mesmo. Por sempre estar querendo mais e mais coisas que não podemos mais viver sem. Eu, por exemplo, atualmente tenho sido consumido pela possibilidade de trocar meu nano 2 gb por um de 8 ou um de 80. Isso tem definido minha existência medinha , nesse momento. Se não existisse corrupção, talvez eu estivesse em dúvida entre o de 80 e um power mac tela 20 polegadas wi fi com vista para o mar. Mas eu seria melhor enquanto ser humano? Com certeza não! Alias, um dos poucos benefícios dessa corrupção toda é a gente pensar que somos seres melhores e mais evoluídos do que eles. Talvez o único lugar onde tenham humanos e não tenha corrupção seja entre os internos de uma UTI, ou entre as ossadas humanas num cemitério. Com certeza, existe o grande e o pequeno corrupto. Os grandes são eles, e os pequenos somos nós que estacionamos em fila dupla, só um pouquinho, sonegamos impostos, compramos recibos de médicos e derivados para enganar o imposto de renda, furamos filas, pedimos empregos pros políticos, ficamos quietos quando discordamos de alguma coisa na nossa empresa para não sermos demitidos, catamos músicas e filmes de graça na rede, subtraímos cartuchos de tinta do escritório e registramos nossa empregada, quando registramos, por um salário menor do que ela ganha.

24 setembro 2006

Qual a cor do burro quando foge?

Paulo Rocco perguntou:
Qual é a cor do burro quando foge?

Originalmente todo burro que vai fugir tem cor branca. É uma norma adotada pela convenção da categoria no ano 300 da era cristã. A escolha da cor branca representa simbolicamente o ponto de partida de todas as possibilidades de vida que esse burro, prestes a fugir, terá a partir do momento em que ele romper com os laços de sua vida tacanha e se lançar pelas estradas. É o símbolo da pureza, assim como o branco o é quando impresso nos vestidos alvos das noivas de outrora. Essa cor representa a tela em branco que o animal é e na qual será impressa toda sua história de vida resultante da fuga. Mas não se iluda, eu disse que todo burro que VAI fugir tem cor branca, porém o tom de neve de seu couro pode se transformar pelo próprio processo de fugir numa construção em que não conseguimos mais delimitar com certeza o que é constituinte do ser e o que é resultante do processo. Exemplificando, se o burro foge por uma estrada de terra, o tom de seu couro se constrói num acoplamento estrutural entre o organismo vivo e o meio-terra, transformando a resposta para sua pergunta em terra siena queimada. Se ele foge pela relva, entre vegetações baixas e arbustos floridos, o acoplamento estrutural resultará numa resposta cromática que tenderá ao branco salpicado de partículas de verde musgo e outros tons das folhas e flores da relva. O importante é lembrar que o branco efêmero simboliza a promessa de liberdade e possibilidades e que a cor resultante da fuga será feita numa co-construção envolvendo o burro, o ambiente e o observador.

Por que eu nunca vi enterro de anão?

David perguntou:
Por que eu nunca vi enterro de anão?
Prezado amigo David, por uma simples questão de probabilidade e estatística. Apesar de não ser minha função primordial, uma intervenção interrogativa se faz necessária para que possamos continuar essa conversa, por isso, pergunto eu: Quantos anões tu conhecestes até hoje em sua vida? Responder o Tatoo da ilha da fantasia, ou os coadjuvantes de programas pastelões de sua infância, não vale. Provavelmente sua resposta será: nenhum ou, no máximo, você terá conhecido um anão. E esse anão? Terá feito ele parte, emocional e temporalmente, significante de sua vida para que ainda estivesse próximo a ele quando por infelicidade, ele viesse a falecer? Viu? Apesar das inúmeras contra-perguntas que usei nesse texto, elas apenas foram usadas para clarear o raciocínio das probabilidades baixas que temos de conhecer um anão, ser amigo dele e, ainda mais, ter um vínculo suficientemente longo com ele (ou ela) que permita que a carta sem nome do tarot ceife sua vida e nos convide para o enterro.

Os gambás têm bolsas?

Clederson perguntou:
Os gambás têm bolsas para carregarem seus filhotes assim como os cangurus?

Prezado Kledir, os gambás, assim como os cangurus, são marsupiais, ou seja, seus filhotes nascem “antes do tempo”, incompletos e ainda embriões, e depois completam seu desenvolvimento na bolsa que suas mães possuem. É uma festa, bolsinha quentinha, alguns mamilos para mamar direto da fábrica, som ambiente gastro-intestinal e pulsões do coração para alegrar a filhotada. Porém, nos gambás (e aqui vai uma outra explicação, aquele gambá preto e branco dos desenhos animados não são marsupiais e, em português, seu nome correto é cangambá) os filhotes ficam até completar seu desenvolvimento e depois que nascem, costumam ser transportados nas costas da mãe, agarrados aos seus pelos. Já o canguru baby é mais folgado e costuma continuar a freqüentar a bolsa materna mesmo depois de estar em condições de circular por aí. Por isso que sempre associamos bolsa materna com filhote, com canguru.

23 setembro 2006

O que aconteceu com o bairro de Higienópolis?

Renata perguntou:
Quando eu era pequena, sempre me disseram que eu morava no bairro de Higienópolis. De repente, sem me mudar de casa, passei a morar no Centro. Gostaria que o oráculo me respondesse o que aconteceu com o bairro Higienópolis: nunca existiu ou como Atlântida, o bairro desapareceu?

Prezada Renata, em 1905, quando Einstein publicou sua teoria da relatividade especial, muita coisa mudou na física e também em outras áreas do conhecimento humano. Para ele, nenhum objeto se distingue por proporcionar um marco de referência absoluto em repouso. Desta forma, tanto faz você afirmar que um trem se desloca em relação à estação como afirmar que a estação se desloca em relação ao trem. Depende do que você adotará como referencial. Ou seja, tudo é relativo. Quando você era pequena, a cidade era menor e a área correspondente ao centro da cidade também era mais circunscrita. Poderíamos dizer que o downtown se limitava aos prédios que se localizavam ao redor da praça XV e da catedral da cidade. Logo acima (e já que estamos falando em relatividade, se tomarmos como referencial o ribeirão da avenida chico junk) do centro, ficava seu amado bairro onde nascestes. Mas a cidade cresceu, e cresceu muito, o referencial mudou e o ponto central tornou-se muito maior. Um interessante complemento para se entender esse processo é a teoria de Poincaré sobre um fio de linha que desenha uma curva fechada sobre a superfície de uma laranja. Segundo esse eminente matemático do começo do século passado, qualquer ponto na casca dessa laranja pode ser deformado até ser transformado na própria superfície da laranja. É o que tem acontecido com nossa (e outras) cidade. A expansão e crescimento demográfico geram um maior crescimento habitacional, com o conseqüente aumento da superfície topográfica urbana que expande o ponto inicial central, conforme previsto na teoria de Poincaré. Dessa forma, de uma maneira semântica e existencial, o ponto central engole áreas adjacentes como um buraco negro engole a matéria e a luz que marcou em existir ao seu redor. Não se preocupe, fisicamente seu bairro continua aí, apenas sua classificação foi mudada por ter sido engolfado pelo centro da cidade em expansão.
Para ler sobre o Einstein: http://www.lucalm.hpg.ig.com.br/mat_esp/relatividade/relatividade.htm

E para ler sobre o Poincaré: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR75159-6014,00.html

22 setembro 2006

Por que sempre que marcam um show ao ar livre chove?

Renato Vieira Andrade perguntou:

Por que sempre que marcam um show ao ar livre em Ribeirão chove?

Prezado amigo incorformado com as águas que caíram nas altas noites. Jonathan Kaplan, conceituado neuro-eletro-físico de Cambridge, pesquisou durante anos a condução dos impulsos nervosos pelas fibras mielinizadas dos axônios e dendritos dos mamíferos mais desenvolvidos filogeneticamente. Todo mundo se lembra daquela viadagem das mebranas que deixam passar sódio para cá, potássio para lá, criando uma eletricidade. Jonathan provou que a somatória de pequenos campos elétricos gerados por todos os impulsos nervosos produz um campo elétrico pessoal e particular de cada pessoa. Anos depois desse seu trabalho pioneiro (The nature of the human electric fields, Kaplan, J. C. and cols. Science, 1984) o famoso pesquisador, durante uma temporada na UFBA em Salvador, ampliou seu conceito inicial de campo elétrico humano gerado pela atividade elétrica nervosa total e começou a pesquisar possíveis fatores que pudessem interferir nessa atividade elétrica corporal. Alguns cientistas baianos que conviveram com o renomado pesquisador comentaram a boca pequena que todo o trabalho de Kaplan sofreu uma mudança de paradigma após o seu contato com o eletrizante carnaval baiano. Kaplan, impressionado com a magnitude do evento ( e com uma baiana porreta que fez o cientista gemer sem sentir dor), endoidou e começou a pesquisar o CEHUT (Campo Elétrico Humano Total), termo definido por ele como o campo elétrico gerado por uma grande massa de indivíduos sintonizados em uma mesma freqüência de energia. Uma das conclusões de sua pesquisa com o CEHUT foi que em condições atmosféricas específicas a emissão do CEHUT pode produzir uma onda elétrica na atmosfera que ioniza as partículas de água do ar. Essa ionização, por sua vez, diminui a distância entre elas, aumentando o coeficiente de condensação e a quantidade de nuvens. Ë por isso que, quase sempre chove no carnaval.
No caso específico de sua pergunta, o fato de Ribeirão ser uma cidade muito quente e, ao mesmo tempo, com poucos eventos culturais ao ar livre que mereçam a nossa atenção, produz as condições ideais, postuladas por Kaplan em um segundo artigo seminal escrito para a Nature (1993) chamado Circunstancials and total human electric fields as a result of specific coletive human events. Essas condições podem ser resumidas da seguinte forma: O pré-conhecimento da possibilidade de um show interessante pela comunidade de humanos interessados em uma cidade carente de eventos culturais significativos feitos ao ar livre produz uma potencialização do CEHUT gerado normalmente nessas condições. Esse campo elétrico extremamente forte, quase que três vezes maior que o esperado em condições normais de cultura e pressão, agrega também, por sua vez, três vezes mais gotículas de água suspensas na atmosfera o que, fatalmente, gera CHUVA.

20 setembro 2006

Saudade, os povos que não tem a palavra, não sentem?

Lau perguntou:

Saudade, os povos que não tem a palavra, não sentem?

Todos os povos sentem saudades, porém os que não possuem a palavra acham que o que estão sentindo é apenas “uma falta de”.

18 setembro 2006

Por que o cravo brigou com a rosa?

Estou-com-medo perguntou:
Por que o cravo brigou com a rosa?

Em briga de marido e mulher não costumo meter minha colher but...

Na época do ocorrido, o papel da mulher-rosa na sociedade florística então vigente era bastante limitado. Quando digo limitado, refiro-me às participaçõe sociais solares e evidentes. À pobre rosa eram dadas tarefas ditas femininas como, por exemplo, ornar vasos em festas e comemorações famílias. Já o cravo, saia para ferver quase toda noite, voltava para casa de madrugada, bebia muita seiva etílica e ainda contava uns leros até para flor de toalha de plástico, para ver se comia. Rosa, incoformada que era com o papel submisso da flor-mulher na sociedade, quando podia, tentava ampliar sua capacidade de ação e reação no conjunto de valores vigentes. Dessa forma, costumava frequentar bares onde flores nao entravam desacompanhadas. Assim como também insistia em jogar golfe no clube masculino local. Nao preciso nem dizer que isso gerou inúmeros desconfortos em cravo que, apesar de tentar ser moderno e progressista, nao engolia essas modernidades da rosa. Preciso explicar mais? As brigas começaram assim, verbais e mansas mas, com o tempo e a insistência de rosa em suas convicções, tornaram-se mais enérgicas e físicas, culminando com o episódio ocorrido em baixo da sacada do autor da célebre cantiga, onde nossa querida flor saiu despetalada.

16 setembro 2006

Por que? Como? Quando?

Eduardo perguntou:
Por que, oh sábio, o céu não é verde e as plantas não são azuis? Como devo agir em caso de invasão extraterrestre visivelmente inimiga? Quando devo trocar o óleo da moto?

Prezado ser cheio de dúvidas, vou dar uma colher de sopa e responder suas questões de uma vez, porém, devo alertar a todos que não costumo fazer isso. Da próxima vez, faça sua pergunta e retorne ao final da fila. Como sinto que essas questões que atormentam seu ser possuem um elemento em comum que as liga, tornado-as quase que uma única coisa, vou respondê-las de baciada.
Primeiro, o céu não é verde porque ele JÁ é azul, isso é tão óbvio que chega a me irritar ter que responder. Sendo você, pelo jeito, um ser perguntante, vou economizar seus dedinhos tecladores, respondendo porque o céu é azul. Culpa do oxigênio, da composição de nossa atmosfera, que, quando os raios solares passam por ela, faz daquilo que está no alto de nossas cabeças, um anilzinho só. Segundo, as plantas precisam da luz do sol, aquela que deixa a atmosfera azul, para produzir glicose e alimentar suas células. Esse processo todo, conhecido como fotossíntese (produção pela luz) além de fornecer comidinha para as bonitinhas, também libera oxigênio para a atmosfera que, por sua vez, vai contribuir para céu azul de nosso planeta.
No caso de invasão por extraterrestres hostis, alguns procedimentos básicos podem ajudar a prolongar sua existência durante o conflito. Primeiro, tente se esconder já que assumimos de antemão que eles são hostis e nem tente se comunicar com eles porque, se um pc tem dificuldades de comunicação com um mac, imagine, então, as chances ínfimas que você terá de diálogo com esses déspotas intergaláticos. Depois, procure observar se eles usam algum tipo de capacete lacrado porque, muito provavelmente, composição esperta como a da nossa atmosfera (e que deixa o céu azulzinho) deve ser difícil de encontrar em qualquer outro lugar do cosmo. Por isso, os cachorros do espaço sideral, com certeza, terão dificuldade em respirar, se é que eles respiram, nosso arzinho cheio de oxigênio. Sim o oxigênio, aquele que faz o céu ser azul e é também liberado pelas plantas durante a fotossíntese que, por sua vez, usa a luz do sol e a clorofila, pigmento responsável pela cor verde das plantas. Resumindo, em caso de confronto inevitável, procure acertar os capacetes deles, seja com uma pedra, um rifle ou um canhão de raio laser.
Para concluir, (pensou que eu tinha esquecido?) o melhor momento para trocar o óleo da moto é exatamente em tempos de paz e não em tempos de invasões extraterrestres, de preferência uns quatro ou cinco quarteirões antes de fundir o motor, porque ainda dará tempo de achar um posto.

Alimentos orgânicos podem melhorar a velhice?

Bel Franchi peguntou:
Prezado guru Cleido, tenho pensado em me alimentar com produtos orgânicos. O que voce me aconselha? Será que com isso melhoro minha velhice?

Prezada irmã orgânica, pode ser que sim e pode ser que não. Para explicar meu ponto de vista, começarei falando sobre o riacho que todo dia você observa de sua janela que dá para a mata atlântica e onde ainda sopra uma brisa pura e árcade. Como pode todo dia ele ser o mesmo riacho, se as águas que hoje passam por ele não são as mesmas que ontem ali estavam a rodopiar? O que define aquele pequeno trecho de águas correntes como seu pequeno riacho se, a cada momento, ele é constituído por novas moléculas? E você? Se suas células epiteliais se renovam a cada semana por completo, que você será você, a semana que vem?
Esse pequeno prólogo é apenas para nos situar no terreno pantanoso em que pretendemos erguer sua casa (a velhice) alicerçada, por sua vez, com tijolos de massa orgânica. Pense em sua vida, nos quantos anos que seu corpo tem sido construído com cimento encharcado por inseticidas, adubos, hormônios animais e etc. Pense em cada célula cimentada com essa argamassa impura e mixada no wallita mix de nossa vida moderna. Quanto de você é, hoje em dia, inorgânico? Quanto de você é, hoje em dia, construído por essas substâncias aparentemente nocivas que os produtos orgânicos, com o tempo, substituirão? Estás preparada para uma nova vida livre do que faz mal?
Vou ainda mais além? Estás preparada para uma nova vida livre do mal?
Por isso recomendo cautela, porque não sabemos quanto do que é bom em nós emerge da lama consumida por nós nas últimas décadas, como a flor de lótus nasce do pântano podre que a cerca.
E o riacho? Ele continua lá, mesmo mudando suas águas. E você? Continua aí, mesmo tendo renovada toda suas células. Você sabe disso, o riacho sabe disso, então pode valer a pena arriscar.

Como se explica a paixão?

Tânia Alonso perguntou:

Ó Oráculo dos Oráculos! Como pode ser explicada a paixão? Não a de Cristo! Quero dizer... a dos homens mesmo... homens no sentido do ser humano - homens + mulheres + crianças + transgêneros... enfim. Como se explica?

Prezada amiga Tânia, ah, a paixão. Puro afã, zum de besouro, um imã. Branca é a tez da manhã! Pronto, está explicada a paixão. Tá bom, tá bom, tá bom, acho que você quer um pouco mais do que o Djá cantou, né? Sua pergunta, querida Persona dell’arte, é transdisciplinar e portanto pode ser respondida embasada (e passeando) por várias áreas do conhecimento humano. O que é a paixão? Perguntou o psicanalista. É você, mamãe! Respondeu Édipo. O que é a paixão? Perguntou o cientista. Eu não sei, mas sei onde fica! Respondeu o neuro-psico-farmacologista.
Mas, na verdade, existe uma resposta e eu, como oráculo honesto que sou, não me esquivarei dela com evasivas poéticas que se desmancham no ar como zuns de besouros. Não direi que a paixão não se explica, que apenas se sente, porque essa é a resposta dos incompetentes.
A paixão se explica na incompletude humana, na eterna busca da totalidade perdida quando caímos nesse mundo e rompemos nossos laços com o útero e, por conseguinte, com a grande mãe-tudo-universo. Largados no mundo, separados do Éden, somos apenas humanos pela metade a procurar quem nos complete, doloridos pela falta da compreensão e da tranqüilidade do Todo, da salina morna que havia nos banhado até então.

15 setembro 2006

Por que os kamikazes usavam capacetes?

David Araújo perguntou:
Por quê os kamikazes usavam capacetes?

Prezado amigo David, lamento informar-lhe que os kamikazes NÃO usavam capacetes.
Sei que tal resposta poderá provocar um tremendo choque em suas dúvidas nipo-históricas, mas temos que enfrentar a realidade, não é mesmo? Para ilustrar meu ponto de vista, mando o seguinte link: http://www.geocities.com/ctemplar270/kamikazes.jpg
Nele, você vai confirmar que digo a verdade e que o que tens acredito por anos, não passa de uma falácia. São lendas históricas que podem servir para desestabilizar nossos pensamentos e confundir nossa noção de certo, errado, oriente, ocidente, quente, frio e etc.
Talvez, o nobre neuro-imagimaker, tenha confundido a touquinha básica que eles usavam para ajudar a segurar os óculos com o famigerado capacete.

Antes que você me pergunte, os óculos serviam de proteção contra algum possível dano ocorrido pelas balas disparadas pela turma dos aliados nos vidros do avião. Esse dano, por sua vez, possibilitaria a entrada de ventos excessivos que fariam o pobre do kami cerrar ainda mais seus olhinhos e, com isso, errar o alvo. Desculpe mais uma vez mas, derrubar para a real, também é o papel de um oráculo honesto.

13 setembro 2006

Os ornitorrincos têm complexos existenciais?

Paulo Rocco perguntou:
O ornitorrinco, que é a prova viva de que Deus tem bom humor, não sofreria de complexos existenciais devido à sua aparência, digamos, diferente?

Prezado Paulo, não, não sofre porque vive entre os iguais e, portanto só é diferente para nós que estamos fora, somos observadores e vemos os ornitorrincos, nós mesmos, os patos e os outros animais em geral e comparamos tudo. Eles não comparam nada, são todos iguais e vivem felizes fazendo aquilo que mais sabem fazer: ornitorrincar, ou seja, serem ornitorrincos.
Com o perdão da palavra, a merda começa conosco, humanos que, através da linguagem, percebemos nós mesmos e os outros e começamos a comparar. Comparamos quem é mais alto, quem é mais baixo, quem é mais inteligente, quem é mais sexy. Temos tanta fúria comparativa que até extrapolamos nosso próprio âmbito humano e começamos a comparar conosco, coisas diferentes, de natureza e existência diferentes. Daí que dizemos que o pingüim é simpático e o ornitorrinco é esquisito. Mas não se iluda, o orni-macho faz o maior sucesso lá com as orni-nega dele, ninguém acha ninguém esquisito. Só nós achamos e, talvez, Deus.

12 setembro 2006

Por que se chamava Forte Apache?

Renata perguntou:
Se era um forte usado pelos brancos para se defenderem dos índios, por que se chamava Forte Apache?

Prezada Renata, posso garantir que essa foi a pergunta mais difícil que respondi nessa minha curta existência enquanto oráculo. Existem duas hipóteses básicas para explicar o nome Forte Apache e sua (aparente) contradição. Na primeira dela, o forte original ficava próximo a cadeia de montanhas Apalaches que permeia a américa do norte. Dessa forma, o Forte ApaLAche original fazia referência às montanhas que repousavam no horizonte semi-distante. Ao se transformar em um brinquedo de índio e mocinho da Gulliver, aliás, brinquedo que tenho trauma porque quem tinha era meu vizinho e, por isso, sempre que eu brincava tinha que ser os índios e, invariavelmente, morrer no final. Recapitulando, ao se transformar em brinquedo, os tradutores e inventores de nomes (que também trabalham em tradução de filmes, pelo jeito) retiraram o LA para uma maior identificação da meninada (hoje na faixa dos enta) com os variados filmes, gibis e etc. de mocinho e índios da época.

Porém, adultos informados, antenados e pós-modernos que somos, não podemos nos contentar com uma explicação, apesar de lógica e verdadeira, tão simplista. Acredito que essa mudança no nome foi proposital e fez parte de um bem armado plano da inteligência americana apoiada pelo regime totalitário que se instalava em nossa América latina. Batizando de Apache, um centro de resistência do homem branco e protestante ocidental frente ao mundo selvagem, produzimos uma identificação inconsciente do povo oprimido (nós) com os selvagens que atacam o forte americano. Você deve estar, nessa altura do campeonato, perguntando; “Sei, mas e daí?” Daí, cara Renata, que uma das formas mais sutis de abrandar o poder guerreiro de um povo é, justamente, confundi-lo com o branco opressor, encharcá-lo de processos culturais importados e torná-lo sem chão, sem raiz, sem futuro. Forte Apache, afinal quem somos nós nessa luta? Os mocinhos? Os índios? Estão gerados a confusão, o enfraquecimento e o caos.

Por onde andará o Major Tom?

Thomas perguntou:

Por onde andará o Major Tom? Ele até que respondeu umas vezes pro Ground Control, mas depois mais nada...

Dear Thom, existem controvérsias sobre o paradeiro de Major Tom, apesar de ter respondido ao controle de terra, suas respostas foram vagas e passíveis de múltiplas interpretações. Schilling diz que ele encontra-se feliz e apenas quer que sua esposa saiba que ele a ama. Já Bowie, em seus últimos comentários, insinua que ele voltou para a Terra e se afogou no lingerie, se é que você me entende. Prefiro acreditar, e tenho provas circunstanciais disso, que como ele mesmo disse depois de perder o contato com o ground control, ele está voltando para casa:

"Esta é minha casa, Estou chegando em casa... A Terra abaixo de nós, Vagueando, caindo, Flutuando sem peso... Chegando, chegando em casa... Em casa...”*

O grande problema passa a ser, então, nosso referencial. Se ele está voltando para casa e a Terra está logo abaixo, ele tanto pode estar voltando para ela, depois de um período no espaço, aprendendo e evoluindo, como em 2001. Como ele pode estar deixando a Terra para trás, para baixo e partindo rumo ao infinito (afinal ele pede ao ground control que diga a sua esposa que ele a ama). Porém, partir para as estrelas, também é voltar para nossa proto-casa-uterina-pré-big-bang. Já que nossos átomos são os mesmos que um dia deram origem ao universo e, portanto, somos feitos da poeira das estrelas. Resumindo, para mim, ele está lá, mais perto do ínicio, agora que estamos no fim.

(*tradução catada em http://schilling-peter.letras.terra.com.br/letras/300934/)

Por que fazer nada tendo tanto a fazer?

Tatiana perguntou:
Caro Oráculo, Por que um ser humano em uma fase crítica do doutorado fica horas passeando pelo orkut? quando, na verdade, deveria desenrolar o nó em que se meteu?

Prezada amiga enrolada, pelo simples fato que a menor distância entre dois pontos nem sempre é uma reta. Aliás, em casos extremos de ansiedade e prazo a cumprir, essa menor distância se transforma em uma grande espiral que acaba chegando ao outro ponto, mas pode demorar um pouco mais de tempo que nosso superego gostaria. Mantenha a calma e passeie à vontade pelo orkut e outros sites. Fazer bolo e arrumar a cozinha também tem efeito semelhante. Colocar coisas em ordem alfabética também é uma delícia. Não se preocupe, o nó a ser desatado, já está sendo desatado. Ou você pensa que todo seu ser se encontra só na internet? Parte dele, microscopicamente, já se ocupa em afrouxar as amarras que te prendes.

11 setembro 2006

Por que não tenho nenhuma pergunta?

André Nobreza perguntou:
Querido mago da perguntas. Depois de visitar sua comunidade "Pergunta que eu respondo", eis que me surge uma indagação que me deixa inquieto por completo.
"Por que eu não tenho nenhuma pergunta?"

Prezado mestre das línguas anglo-saxônicas, começarei essa resposta com a máxima esotérica que diz: “do tao surgiu o um, do um surgiu o dois, do dois surgiu o três que é todas as coisas”. Ou seja, a própria definição da existência da não-existência (o tao) já define alguma coisa, o um. Por sua vez, definir a unidade e o nada faz com que tenhamos a dualidade, o dois. Assim, o nada, a unidade e a dualidade (0, 1 e o 2) definem a trindade que, no esoterismo, é todas as coisas possíveis, pois representa as possibilidades infinitas que surgem dessa construção inicial a partir do tao.
Vejamos então o seu caso. A partir de uma não-pergunta, você remodela o nada e retira dele a unidade, ou seja, sua anti-pergunta. Ela, por sua vez, transforma-se em uma unidade, uma pergunta e, com isso, seus medos, sua timidez em enfrentar o oráculo e perguntar se dissipam e tudo se ilumina. Parabéns!

10 setembro 2006

Por que pegamos o recibo do supermercado?

Renato Vieira Andrade perguntou:

Por que a gente sempre pega o recibinho do super (mesmo no valor mais ínfimo) se três passos depois jogamos na primeira lixeira disponível?

Prezado artista, simplesmente por uma questão de educação. Quando a moça do caixa entrega para você o troco e o papel, seria extremamente deselegante você pegar só o dinheiro e deixar o ticket do caixa lá em cima para ela jogar fora. Se só esse motivo não bastar, antropologicamente falando, podemos dizer que você apenas está respondendo a uma sugestão de comportamento, ou seja, você, empiricamente, responde a uma ação (proposta pela moça do caixa) com outra ação. Ou seja, vocês coordenam ações e, em outras palavras, conversam. Lógico que você poderia virar para ela e sugerir que ela enfiasse o pequeno papel em algum orifício escondido do opulento corpo dela, mas daí, séculos de civilização iriam para o espaço em milisegundos! E não foi essa a educação que a mamãe te deu, não é mesmo?
Continue assim, isso é cidadania imprintada nos pequenos gestos cotidianos. Fora o fato que amassar o papel, ter que procurar um lixo e acertá-lo, queima calorias, estimula o sistema nervoso e afina as conexões do cerebelo.

09 setembro 2006

Qual o sentido da vida?

Marina O. perguntou:
Lembra de um filme do Monty Python que começa com os peixinhos no aquário, pra lá e pra cá, pra cá e pra lá? O nome do filme é "O Sentido da Vida" , e eu, caro Cleidoráculo, vos pergunto: Qual o sentido da vida?

Prezada Marina, lamento informar, mas a vida não tem sentido! No máximo tem uma direção e, mesmo assim, por culpa do Prigogine que ficou com aquelas frescuras termodinâmicas da irreversibilidade da flecha do tempo, da impossibilidade de reversão da direção das reações químicas, da eterna tendência à desordem e ao caos pelo aumento da entropia do sistema que o tempo provoca. Por conta de tudo isso, dessa direção da flecha do tempo, nascemos, crescemos e morremos e, no meio do caminho, nos divertimos um pouco, se conseguimos.
O problema do sentido da vida que tanto perturba os pensadores desde a Grécia antiga, na verdade, é apenas um efeito colateral, uma rebarba, da capacidade dos seres humanos de pensarem e terem auto-consciência. É a cachorra da auto-consciência que nota que nós existimos, que os outros existem e que as coisas e os outros seres vivos também existem por aí. Diante da tanta consciência de existência, começam a aparecer as perguntas (vide tópico sobre a origem das perguntas) e, embasbacado com o fato de tanta complexidade, começamos a achar que tudo isso deva ter algum sentido, que essa complexidade de processos auto-criativos que conhecemos como vida, tenha algum propósito. Mas não tem! Posso garantir que não tem. O único sentido da vida é o “sentir a vida”, deixar-se levar pelo fluxo de acontecimentos que ela é, ou seja, deixar-se fluir no viver. Lembrando do final do filme que você citou, é acordar, tomar café, levar as crianças na escola, passear, namorar, cortar o cabelo, pagar as contas, ler e etc.
O resto são questionamentos e dúvidas que surgem depois quando pensamos sobre, mas, convenhamos, refletir é bem diferente de ser.

06 setembro 2006

Como os cachorros se casam?

Nicolau perguntou para o seu pai:
Como os cachorros se casam se eles ficam presos em casas?

Muito bonita esta pergunta, meu filho. Nunca tinha pensado nessa condição dos cachorros modernos de classe média que ficam presos, como seus donos, em seus maiores ou menores caixotes confortáveis.
Realmente, eles ficam presos nas casas, geralmente sozinhos e muitas vezes funcionam como irmãos mais baratos, já que não precisamos pensar na faculdade nem no baile de 15 anos deles. Mas mesmo assim, muito deles ainda se casam quando chegam à idade de se casar. Seus donos os levam para passear, pelas ruas arborizadas da vizinhança onde eles podem conhecer e cheirar possíveis noivos/noivas. Eles se cheiram, balançam seus rabinhos (se ainda os têm) e até ficam felizes, cantando “me dê sua pata peluda vamos passear, sentir o cheiro da rua...” Quando são de raça (com pedigree), seus donos combinam com outros donos para que eles se encontrem e tenham filhotes, facilitando assim, o casamento entre eles.

05 setembro 2006

Quem Inventou a Pergunta?

Fernando Silveyra perguntou:
Prezado oráculo, gostaria de saber: Quem inventou a pergunta? E, ademais:
seria o mesmo indivíduo, associação ou tribo que, simultânea ou posteriormente,
tenha também inventado a resposta?
Prezado pergunteiro profissional, interessante questão que só possui equivalência (de sentido e porte) no âmbito da Biologia evolutiva com a pergunta: Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
Bem, mas no nosso caso, acredito que a pergunta nasceu junto com a linguagem. Portanto, somente através da linguagem é possível perguntar. Mas não só a linguagem oral explícita, mas toda e qualquer forma de linguagem. Assim, um bebê que ainda não fala pode perguntar, porque, apesar de ainda não falar, ele já está imerso na linguagem, em um mundo construído por e pela linguagem! Mas afinal, o que é linguagem? Para o pensador Humberto Maturana, linguagem é a coordenação de coordenações de comportamentos consensuais (ou algo parecido com isso, sabe Deus!). Assim, nós humanos, vivemos juntos desde os tempos primordiais e construímos nosso mundo através de nosso viver juntos (através da linguagem) onde compartilhamos ações coordenadas (também através da linguagem). Aliás, é a linguagem que permitiu aos seres humanos, serem humanos. A linguagem é o humano. Com ela e através dela, criamos as coisas, os fatos, as palavras, o passado, o presente, o futuro e também as perguntas.
Com relação às respostas, elas, com certeza, surgiram antes das perguntas, só que como ninguém ainda havia perguntado nada, ninguém tinha, também, conhecimento da existência delas.

Como se faz um Brownie

Paula Faggioni perguntou:
Preciso de uma receita de brownie!!!

Prezada amiga Paula, delicie-se com esta maravilhosa (e fácil) receita de brownie. A Ana Maria Braga iria gemer, sem sentir dor, se seu palato tivesse a honra de tocar um bocado dessa iguaria. Existem outras receitas, algumas até melhores, mas essa é básica, fácil e muuuuuuuuuuito boa. Nem preciso dizer que uma bola de sorvete de creme pega bem, certo?
Lá vai:

100g de manteiga, resista, não use margarina.
1 xícara de chocolate em pó, eu disse chocolate em pó, NÃO nescau nem toddy nem outro achocolatado.
2 xícaras de açúcar
4 ovos
1 xícara de farinha de trigo, a Renata é a the best.
1 xícara de castanha do pará moída

Derreta a manteiga, acrescente o chocolate, farinha, ovos, castanhas, mexendo com uma colher de pau. Colocar em uma assadeira retangular pequena, untada. Asse até formar uma casquinha na parte de cima. O meio fica meio cru mesmo, afinal o brownie tem esta característica de bolo embatumado, porque não vai fermento e, portanto, não cresce. Não sei quanto tempo e nem em que temperatura se assa, mas a vida é assim mesmo, tente o forno médio e uns 30 minutos. Eu costumo ir no zóiometro mesmo

02 setembro 2006

Efeito Schurman

Adda perguntou:
Se o efeito schurman diminui o dia, na verdade em que em dia, mes e ano e estação nós estamos hoje?

Prezada amiga deslocalizada, interessante questão. Friederich August Schurman (pronuncia-se xúrmãm), famoso astrofísico austríaco que teorizou o famoso efeito schurman, disse que o efeito da expansão inicial do big bang, promoveu um aumento exponencial na energia das partículas subatômicas. Na verdade, isso é lógico e simples de se entender. Supondo que a massa original do grande neutron que deu origem ao nosso universo conhecido fosse X, tudo, resultante da explosão inicial, teria sido, enquanto massa, menos que X. Acontece que, como Schurman provou com seus intricados cálculos matemáticos, a totalidade de massa resultante da soma de tudo que é mássico (neologismo que significa "passível de possuir massa") nesse nosso mundão de Deus É MAIOR que a soma das partes das partículas de nosso universo. Schurman, num ímpeto de genialidade e insight cósmico, concluiu que esse "excesso de massa" de nosso universo só poderia ter sido produzido de duas maneiras: Na primeira dela, alguma inteligência superior e criadora de universos, também conhecido como Deus, teria criado esssa nova matéria com o forte propósito de complicar bastante a vida dos coitados dos que se metessem a tentar explicar a origem e o destino de todas as coisas. Na segunda delas, também conhecida como "causa Schurman" a própria expansão do universo formado na big bang inicial, geraria essa alteração de matéria devido ao movimento das partículas em uma velocidade cada vez mais proxima a da luz. De uma maneira mais detalhada, a pontapé inicial dado pela explosão do grande neutron, aceleraria tudo até um limite próximo à velocidade da luz (tudo isso, comprovado pelo desvio da luz emitida pelas estrelas distantes para o vermelho, observado nos telescópios espectrofotométricos).
Como vocês e o Einstein sabem muito bem, as coisas ficam muito loucas quando se aproximam da velocidade da luz. O tempo fica doidão, se comporta muito mal e só passa de ano porque, também em escala cósmica, existe uma espécie de progressão continuada em que nada é reprovado de ano.
Como o tempo fica loucão, proximo da velô da luz, trilhonésimos de bilionésimos de segundos vem sido sendo descontados desde o big bang (e esse é o famoso efeito Schurman). Donde ocorre que, em 1959, esse tempo descontado deu justamente um dia de duração. Se estiver dificil de acompanhar o raciocínio, tente visualizar sua conta de banco sendo descontada, ano após ano, da taxa do cpmf, pensa em quanto você já perdeu para os cofres públicos! Pois é, o universo também cobra seu imposto de nossos míseros e cotidianos anos de existência.
Fazendo então as contas, se em 1959, perdemos nosso primeiro dia e de 1959 até o big bang passsou muito tempo, podemos cosiderar que perdemos apenas um dia inteiro desde então (da origem do universo) mais uma titica ínfima de tempo (considerando de 59 para cá) que nem vale a pena levar em consideração nas nossas contas.
Por isso, prezada amiga desnorteada, na verdade, você hoje, só está um dia atrasada em relação ao tempo universal e verdadeiro o que, convenhamos, não faz muita diferença em termos de pagar contas e se arrepender de seus pecados...


Plutão na 2ª divisão

Eduardo Martins perguntou:
Agora que Plutão foi rebaixado para a 2ª divisão do campeonato interplanetário, como ficam os sargitárianos que eram regidos pela sua influência cosmo-zodiacal? A cigana me enganou?

Prezado sargitariano desiludido, não, não, a cigana não te enganou. Primeiro porque, eu acho, que o pluplu não entrava na calculação astrológica, ou entrava? De qualquer maneira, vc nao foi enganado simplesmente porque até pouco tempo atrás, plutão era um planeta, todo mundo acreditava nisso. E basta todo mundo acreditar para que um hipótese se transforme em verdade. Vide, por exemplo, a igreja catolica. Caro Eduardo, não se sinta enganado, viver em um mundo em equilibrio dinâmico e pós moderno, é assim mesmo, uma hora aqui, outra ali... uma verdade aqui, outra verdade ali... é o fim das certezas! Plutão cumpriu (e cumpre) seu papel com dignidade de um pequeno astro longínquo e gelado que, na medida do possível, interferiu no grande e delicado jogo do universo e, por conseguinte, também em nossas míseras vidas!!!!!!