Paulo Rocco perguntou:
O ornitorrinco, que é a prova viva de que Deus tem bom humor, não sofreria de complexos existenciais devido à sua aparência, digamos, diferente?
Prezado Paulo, não, não sofre porque vive entre os iguais e, portanto só é diferente para nós que estamos fora, somos observadores e vemos os ornitorrincos, nós mesmos, os patos e os outros animais em geral e comparamos tudo. Eles não comparam nada, são todos iguais e vivem felizes fazendo aquilo que mais sabem fazer: ornitorrincar, ou seja, serem ornitorrincos.
Com o perdão da palavra, a merda começa conosco, humanos que, através da linguagem, percebemos nós mesmos e os outros e começamos a comparar. Comparamos quem é mais alto, quem é mais baixo, quem é mais inteligente, quem é mais sexy. Temos tanta fúria comparativa que até extrapolamos nosso próprio âmbito humano e começamos a comparar conosco, coisas diferentes, de natureza e existência diferentes. Daí que dizemos que o pingüim é simpático e o ornitorrinco é esquisito. Mas não se iluda, o orni-macho faz o maior sucesso lá com as orni-nega dele, ninguém acha ninguém esquisito. Só nós achamos e, talvez, Deus.
Um comentário:
Vale lembrar que os ornitorrincos também se comunicam, e que entre eles passa - desde imemoriais gerações - a seguinte dúvida, cravada em sua bíblia sagrada: "Será que os homens não têm crises existenciais, seres tão estranhos e diferentes de nós?" (Ornithorhynchus anatinus, 3-27)
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