Bel Franchi peguntou:
Prezado guru Cleido, tenho pensado em me alimentar com produtos orgânicos. O que voce me aconselha? Será que com isso melhoro minha velhice?
Prezada irmã orgânica, pode ser que sim e pode ser que não. Para explicar meu ponto de vista, começarei falando sobre o riacho que todo dia você observa de sua janela que dá para a mata atlântica e onde ainda sopra uma brisa pura e árcade. Como pode todo dia ele ser o mesmo riacho, se as águas que hoje passam por ele não são as mesmas que ontem ali estavam a rodopiar? O que define aquele pequeno trecho de águas correntes como seu pequeno riacho se, a cada momento, ele é constituído por novas moléculas? E você? Se suas células epiteliais se renovam a cada semana por completo, que você será você, a semana que vem?
Esse pequeno prólogo é apenas para nos situar no terreno pantanoso em que pretendemos erguer sua casa (a velhice) alicerçada, por sua vez, com tijolos de massa orgânica. Pense em sua vida, nos quantos anos que seu corpo tem sido construído com cimento encharcado por inseticidas, adubos, hormônios animais e etc. Pense em cada célula cimentada com essa argamassa impura e mixada no wallita mix de nossa vida moderna. Quanto de você é, hoje em dia, inorgânico? Quanto de você é, hoje em dia, construído por essas substâncias aparentemente nocivas que os produtos orgânicos, com o tempo, substituirão? Estás preparada para uma nova vida livre do que faz mal?
Vou ainda mais além? Estás preparada para uma nova vida livre do mal?
Por isso recomendo cautela, porque não sabemos quanto do que é bom em nós emerge da lama consumida por nós nas últimas décadas, como a flor de lótus nasce do pântano podre que a cerca.
E o riacho? Ele continua lá, mesmo mudando suas águas. E você? Continua aí, mesmo tendo renovada toda suas células. Você sabe disso, o riacho sabe disso, então pode valer a pena arriscar.
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