22 fevereiro 2007

Sobre modelos de óculos escuros usados em enterros de figurões

Goiaba perguntou:

Tenho observado, até por uma razão de ofício, alguns enterros de figurões, geralmente de conduta suspeita quando vivos. Nestas ocasiões ninguém relativamente colunável quer perder a boca. Minha pergunta é: O que os modelos de óculos escuros usados nestas ocasiões ligam o usuário (dos óculos) ao defunto?


Prezado Goiaba, de uma maneira clara e simbólica, os grandes espaços formados pelas lentes escurecidas dos óculos remetem a uma abertura e amplificação do olhar do usuário vivo. É como se exacerbássemos a capacidade dos olhos de serem a janela da alma, escancarando-os e protegendo-os ao mesmo tempo. Por um lado, a lente imensa amplia a capacidade de passagem de informações, o fluxo de sentimentos entre o interno e o externo. Entre o dentro de nós e o fora de nós, entre o corpo e a alma, a noite e o dia, o morto e o vivo. Por outro lado, a tonalidade das lentes, faz com que esse transmutar de energias seja feito de maneira plena e suave.

Acredito que o modelo de óculos amplos e parabólicos, comumente usados pelos colunáveis, em enterros de defuntos suspeitos, retratam essa característica de passagem e sinergia entre o mundo espiritual e material que, nos colunáveis (e nos defuntos suspeitos) está bastante desequilibrado. Além de também simbolizar a relativa ambivalência do estar e querer aparecer das celebridades e, ao mesmo tempo, não querer ser associadas aos aspectos negativos da vida vivida pelo famigerado defunto. Para maiores informações, recomendo a leitura do delicioso livro do sociólogo pós-moderno Paul Amorim Rossetti, chamado “Do you wanna a frame for your soul's window? (Pergamon Press, 1987) em que ele discute, a partir de situações cotidianas, a capacidade do homem de ampliar os significados e significantes (e resignificá-los a todo instante conforme sua rede particular de significações) transformando situações ancestrais (como enterros) em brand new experiences do olhar.

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