Tiago Martins perguntou:
Tenho uma dúvida que me tira o sono: O que é a realidade?
Prezado ser ontológico Tiago, esta questão é muito simples de responder, a realidade é um artefato do observador. Poderia parar por aqui, mas acho que você ficaria chateado. O que quero dizer com isso? A realidade é uma construção coletiva de todos os seres cognitivos que vivem nela. A famosa duplinha de neurobiólogos chilenos, Maturana e Varela, dizia que “tudo que é dito, é dito por alguém”. O que significa que vivemos na linguagem e é nela que definimos o que existe e o que não existe. Ou seja, o que não podemos distinguir, não existe. Essa duplinha de pensadores teve uma sacada genial que foi dizer que, por trás de tudo que é dito (ou escrito, visto, ouvido, cheirado, pensado, sentido e etc.) existe a figura daquele que diz. E, mais que isso, que é impossível separar o que é dito daquele que diz. Dessa forma, é impossível definir o que é realidade (dizer o que é realidade) sem levar em conta aquele que define o que ela é. O pessoal da mecânica quântica já tinha sacado isso uns tempos antes. Já tinham percebido que quando o experimentador tenta medir alguma coisa subatômica, essa variável se altera pela própria experiência de medi-la, ou seja, não existe coisa subatômica isolada daquele que distingue essa coisa (através da linguagem).
Nossos queridos autores, em seu (quase) acessível livro “A Árvore do Conhecimento”, nos dizem que tudo que acontece em nós é determinado pela nossa estrutura. Dessa forma, nossos órgãos do sentido não captam aspectos de uma realidade objetiva que exista independente de nós porque quem determina o que pode ser um “estímulo” para nossos sentidos é a própria estrutura desses órgãos. Vamos a um exemplo dramático e violento, se eu pego um pedaço de cano e acerto seu braço com toda força, muito provavelmente vou quebrar seu osso, arregaçar sua pele, vai sair sangue e etc. (eu disse que seria violento). Mas, quem fez isso com seu braço? O cano? Ou a estrutura de seu próprio braço?
A ação do pedaço de cano é apenas uma perturbação à estrutura do braço, quem determina o que acontece com ele é sua própria estrutura (de carne, osso e sangue). Se eu pegar esse mesmo cano e tentar arregaçar o braço do Iron Man não vou ter tanto sucesso assim. O que mudou de um caso para o outro? A estrutura de cada um.
Por isso, podemos dizer que somos seres determinados estruturalmente. Tudo que acontece conosco é determinado pela nossa estrutura. Se assim o é, não pode existir nenhuma interação nossa com o meio (com a realidade) que seja instrutiva porque nossos órgãos do sentido não captam aspectos objetivos de uma realidade externa e sim são perturbados apenas pela gama de estímulos que suas próprias estruturas (dos órgãos do sentido) definem como perturbação possível. Os seres vivos definem em seu viver e pelas características de suas estruturas, o que é (são) a(s) realidade(s) possível(eis) de existir(em).
É por isso que a realidade não é uma coisa pronta e sim algo que foi dito por alguém, cujo próprio operar nessa realidade também é construtor desse dizer. Resumindo, podemos dizer que a realidade é conseqüência (e também causa) do operar de um sistema cognitivo em seu próprio meio.
Um comentário:
Caracas....
Achei essa realidade muito diminuta, estou me sentido em uma cadeia....cercado com grades linguisticas, ou seja, as grades do nomeado.E onde fica a imaginação, dentro ou fora do real?
E o nada? Será que o nada pode existir, dentro de um real dito, ou o nada está fora?Enfim onde o nada nadifica?
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